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O juiz aponta a marca da cal e apita. Parte do estádio vibra; a outra paralisa de medo. Ou pode ser diferente: depois de 120 minutos sem um vencedor, vamos às cobranças. Em ambos os casos, o pênalti é aquele momento em que as pernas do cobrador tremem. O medo precisa ser vencido pela frieza, pelo talento. O batedor estuda o goleiro e pensa no melhor estilo de cobrança, tudo muito rápido. Enquanto isso, todos os olhos - no estádio, pela TV - estão atentos ao chute que pode decidir um jogo, uma vaga, um título. A bola sai do pé, e... GOL. Alegria, vibração e, acima de tudo, alívio.
Pense no milésimo gol de Pelé. A expectativa naquele Vasco x Santos, que lotou o Maracanã em 1969, era gigantesca. Marcado o pênalti, era o Rei contra Andrada, goleiro vascaíno, que queria evitar a todo custo entrar para a história levando aquele gol. Pelé correu, fez um gingado e bateu no canto. Andrada pulou certo, chegou a roçar na bola, mas não evitou que ela fosse para a rede. Quem viu o craque carregado em triunfo após o lance não imaginava o medo que havia lhe dominado. "Foi a primeira vez que senti minhas pernas tremerem”, admitiu anos mais tarde.
Seja colocado no canto, seja uma bomba no meio do gol, seja uma cavadinha que quase mata a torcida do coração, cada tipo de cobrança nos remete a algum jogo que marcou nossas vidas e entrou para a história. Vamos relembrar aqui alguns deles.
Bem no cantinho
É preciso ter muita frieza para acertar um pênalti no cantinho. A precisão do batedor deve ser milimétrica, dosando efeito e força para tirar a redonda do goleiro. Se a cobrança ocorrer em uma final, a pressão se multiplica, como se a torcida inteira estivesse dentro do campo.
Foi assim com Andreas Brehme, jogador da Alemanha que, na final da Copa de 1990, bateu o pênalti que deu a vitória sobre a Argentina. Brehme colocou a bola como se estivesse jogando sinuca, rasteira e rente à trave de Goycochea - que já havia defendido vários pênaltis naquela Copa. Ele pulou certo, mas não conseguiu evitar o gol do título.
Outro pênalti chutado no cantinho em final foi batido por Luizão, do Corinthians, nas cobranças que decidiram o Mundial de Clubes de 2000 contra o Vasco, no Maracanã. Cansado depois de 120 minutos, Luizão era uma opção arriscada para bater, mas sua cobrança foi perfeita. Ele deu poucos passos e chutou rasteiro, mas com força e convicção, no canto esquerdo do goleiro, que pulou bem, mas não alcançou. O título foi do Timão.
À meia altura
Um pênalti cobrado no canto não precisa ser sempre rasteiro. Muitos preferem jogar a bola à meia altura, exigindo mais do goleiro na hora de saltar, ou fazendo o possível para tirá-lo da foto. Foi o caso do capitão Dunga, na decisão por pênaltis da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Ele correu indicando que chutaria no canto direito, mas jogou a bola com força no lado oposto, rente à trave, à meia altura, ajudando o Brasil a trazer o tetra.
Mas alguns cobradores garantem que o pênalti ideal é batido no canto, à meia altura, mas no lado oposto da perna de chute: destros jogando para a esquerda, e os canhotos, para a direita. Desse jeito, o corpo ganha mais firmeza e precisão. Assim fez Rivaldo no gol de pênalti que deu ao Brasil a primeira vitória na campanha do penta, em 2002, contra a Turquia.
Onde a coruja dorme
Outro estilo de pênalti que exige muito sangue frio do batedor é aquele que vai no ângulo. Se a precisão e o efeito forem corretos, não há goleiro que pegue. E poucos gols são tão bonitos de ver e rever que uma bola entrando onde a coruja dorme, estufando a rede.
A maldição do Brasil de não ganhar o ouro olímpico no futebol masculino acabou com um pênalti assim. Você deve lembrar: depois do empate em 1x1 em 120 minutos, Brasil e Alemanha decidiram o ouro dos jogos do Rio, em 2016, nos pênaltis. O peso da cobrança final recaiu sobre Neymar, que jogou a bola alto, no ângulo, fora do alcance do goleiro.
Já Rogério, do Palmeiras, não se intimidou com o nervosismo das arquibancadas nas cobranças de pênaltis da Libertadores de 1999, contra o Deportivo Cali. Em um Palestra Itália lotado, partiu frio para a bola, acertando sua cobrança no ângulo, ajudando o time paulista a conquistar seu único título sul-americano até hoje.
Soltando o canhão
Tendo apenas o goleiro à frente, e com a bola a 11 metros do gol, muitos jogadores não têm dúvida: soltam um foguete, para não dar chance ao azar. Como sempre, a confiança é tudo, e o batedor precisa, além de potência no chute, sangue frio e precisão para colocar a bola entre as traves, fugindo do goleiro. O resultado, quando dá certo, é o êxtase da torcida.
Conhecido como "Canhão da Vila", Pepe é um dos maiores ídolos do Santos, e seus pênaltis entraram para história, quase sempre usando seu chute potente. No total, Pepe marcou 402 gols pelo Peixe entre 1954 e 1968, muitos deles saindo da marca da cal.
Pênaltis cobrados com força já deram títulos a Grêmio e Inter, rivais conhecidos pela garra. Em 1992, o Colorado ganhou a Copa do Brasil em um pênalti forte e rasteiro, cobrado por Célio Silva, batendo o Fluminense. Já o Tricolor levou sua segunda Libertadores, em 1995, com Dinho fuzilando Higuita, do Nacional, garantindo o 1x1 em Medellín.
Cavando pela glória
A cavadinha é uma das cobranças de pênalti mais arriscadas. Um erro pode fazer o batedor passar vergonha, arrancando um tufo de grama ou chutando a bola fraquinha, nas mãos do goleiro. Mas quando ele acerta, a chance de entrar para a história é enorme.
Foi o caso de Antonín Panenka, ídolo da ex-Tchecoslováquia, que tornou famoso esse tipo de cobrança na final da Euro de 1976 contra a Alemanha. O jogo foi para os pênaltis, e a cobrança decisiva cabia a ele. Todos ficaram perplexos com a sua ousadia em garantir o título com um chute tão bizarro - ainda mais contra o mítico goleiro Sepp Maier. Com isso, em alguns países, bater pênalti com cavadinha é conhecido apenas como "Panenka".
No Brasil, o mais famoso autor de cavadinha foi um uruguaio. Sebastián "El Loco" Abreu deu o título da Copa Rio de 2010 ao Botafogo, marcando contra o Flamengo. A bola subiu devagar, bateu no travessão e caiu dentro do gol, deixando os alvinegros com o coração na mão. Meses depois, Abreu fez outro gol decisivo com cavadinha, dessa vez na Copa da África do Sul, levando o Uruguai à semifinal nos pênaltis contra Gana, em um jogo épico.
Dois toques: pode?
Talvez você não conheça o estilo de pênalti mais bizarro de todos: a cobrança em dois toques (ou mais). Lances assim - permitidos pela regra, exceto quando o jogo vai para os pênaltis - exigem muito entrosamento, já que um erro pode ser fatal, além de meio ridículo.
Um dos mais famosos ocorreu em 1982, no jogo entre Ajax e Helmond Sport, na Holanda. A lenda Johan Cruyff, que estava de volta ao seu clube de origem, foi bater um pênalti. Em vez de chutar, ele tocou para o lado, onde entrava Olsen. O goleiro saiu nele, mas Olsen devolveu a Cruyff, que só empurrou a bola para o gol vazio. O Ajax venceu por 5x0.
Em 2016, Messi e Suárez usaram essa estratégia na vitória do Barcelona sobre o Celta de Vigo por 6x1.
A paradinha
A marca da paradinha sempre foi a polêmica. Os goleiros passaram a vida contestando esse estilo de pênalti, em que são deslocados quando o cobrador simula o chute em um canto, mas joga a bola no outro.
Em 2009, o goleiro do Fluminense, Fernando Henrique, reclamou do botafoguense Maicosuel, que chegou a passar o pé por cima da bola antes de converter um pênalti. Já Neymar fez a paradinha ao bater um pênalti contra Rogério Ceni, em uma vitória do Santos contra o São Paulo, em 2010. O goleiro tricolor reclamou.
Meses depois, antes da Copa da África do Sul, a Fifa baniu a manobra, que foi considerada ato antidesportivo, rendendo até cartão amarelo.
Pelé teria inventado a paradinha, mas ele alega que foi Didi, ídolo do Botafogo e da Seleção, o primeiro a usá-la. O Rei chegou a ensaiar uma paradinha ao fazer o milésimo gol, mas, no fim, só brecou a corrida. O mesmo fez Romário, nos pênaltis decisivos da Copa de 1994. Ele pareceu vacilar ao correr para a bola, mas ela acabou na rede de Pagliuca - não sem antes beijar a trave, dando um frio na espinha do torcedor brasileiro.
O Campeonato Carioca de 2018 é o caso mais recente de paradinha definindo um campeonato. Na decisão por pênaltis contra o Vasco, Renatinho, do Botafogo, freou sua corrida antes de tocar a bola da Topper, patrocinadora do torneio, para o fundo do gol, ajudando o Alvinegro a conquistar o título. Essa variação da paradinha é liberada pela Fifa: o proibido é fazer firula ou interromper a corrida no instante de dar o chute.
Agora é acompanhar o começo do Campeonato Brasileiro, em todas as suas divisões - inclusive as Séries B, C e D, patrocinadas pela Topper - e aguardar mais pênaltis, mais tensão, mais emoção e mais gritos de gol entrando para a história.
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